Parte I
Depois de muitos anos, e um stress
medido em caixas de Remédios para dormir, saí por duas semanas e fomos para a
Europa numa viagem clássica e sem invenção: Paris e Roma.
Pensei em postar no blog uma visão
diferente dos milhões de roteiros que você encontra na web, e falar também um
pouco da logística e funcionamento das cidades.
Uns comentários turísticos e históricos,
também umas fotos dos cartões postais (com links do Wikipédia pra quem quer
saber mais), afinal não é pecado enfeitar um tanto esse blog um tanto hard.
Como ia dar muito trabalho, perdões os acadêmicos, não coloquei as legendas,
quem quiser que procure...
A impressão ao sair do aeroporto de
Paris não é muito melhor do que quando se chega à São Paulo, umas barracas
(tipo favela), à margem de um rio feio; um grande congestionamento para
entrar na cidade com obras confusas, 1 hora até o hotel.
Ficamos no bairro de Matmatre, é
central, e nos permitiria fazer alguns dos passeios a pé; além de ser um lugar
famoso por suas ruelas típicas parisienses, cafés, lojinhas, restaurantes e uma
porta para a Ópera de Paris.
Era noite e fomos andar, mesmo sem
entrar nos locais conhecemos: a Igreja de Madeleine http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_la_Madeleine; Ópera
Garmier (Ópera de Paris) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ópera_Garnier);
Place de la Concorde (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_da_Conc%C3%B3rdia)
; Igreja de Saint Trinité; (http://en.wikipedia.org/wiki/Sainte-Trinité,_Paris).
Obras arquitetônicas lindíssimas, todas
da segunda metade do século XVIII, contando a história da França, talvez o
tempo tenha marcado tanto que ainda se respira a revolução francesa, pelos
monumentos erguidos e nomes mudados por honra e força dos revolucionários;
parece que a cabeça de Luis XVI ainda rola pelas ruas.
Da Praça da Concórdia se vê a Torre
Eiffel, era noite, cores e luzes quando eu a Torre nos olhamos; essa praça é
talvez uma das mais importantes marcas da História da Civilização.
Quando a revolução efervescia, os
manifestantes se juntavam lá para protestar, e sofriam nas mãos dos homens do
Rei. Na verdade antes de ser inaugurada, numa festa de Maria Antonieta, muita
gente foi pisoteada e morta, uma pré-estréia, ou um prenúncio do que
aconteceria.
Em outubro de 1792, a revolução estava
concluída, rei Luis XVI deposto e a estátua de seu pai arremessada do pedestal;
pior ainda, o próprio Rei, que teve sua cabeça arremessada do corpo. A
guilhotina ficou por lá mesmo, estima-se que 40 mil pessoas foram guilhotinadas
nos anos seguintes, e a Praça recebeu o nome de “Praça da Revolução”; os reis
se vão, voltam, nova revolução em 1830 e novamente sem rei.
Um obelisco de milhares de anos chega
como presente do Governo do Egito para a França, substituindo reis, guilhotinas e
estátuas no Paço. Não querendo mais sangue, ela não tem e não pode ter
conotação política ou referência às guerras, a esplanada recebe o nome de
“Praça da Concórdia”.
Algo recorrente na Velha Europa: a praça
de quase 300 anos continua lá, hoje é parte do caminho diário de boa parte da
população, tem congestionamento, restaurantes e escritórios, um hotel grande
que tem hóspedes com o pescoço pra fora, olhando para o monumento.
Nas poucas regiões não tão apinhadas de
turistas era possível escutar francês na rua, dava pra sentir um pouco da vida
de quem vive na cidade; pessoas andando rápido, pastinhas, ternos e mulheres
bem vestidas, os celulares de sempre e a conhecida carranca dos franceses.
As ruas cheias de carros, mas não
congestionadas. Por falar em celulares: o mesmo em qualquer lugar, fala-se pouco
e tecla-se muito, todo o tempo; até aí sem surpresas, a surpresa foi ver
funcionando no metrô. As pessoas, muitas, teclam em silêncio enquanto o trem as
leva subterrâneo a fora. Tem sinal!
A cidade não tem grandes corredores, ou
avenidas largas, é muito plana, ficando bem mais fácil para as bicicletas.
Bicicletas, muitas; as pessoas vão de
fato trabalhar de bicicleta, deixam as amigas trancadas em um dos muitos pontos
para isso; para que se entenda a importância, cada ponto deve abrigar pelo
menos duas centenas de bicicletas, tomam um pedaço da rua e outro da calçada.
Mas não só de bicicleta vive Paris, mas
também bastante motos, de vespas às poderosas BMW`s (a propósito: não há motoboys,
mesmo!!!).
Motos, carros e bicicletas competem e convivem, as ruas são muitas vezes lotadas, sem que os congestionamentos sejam endêmicos. Uma cidade tão antiga com centenas de construções, que não podem ser tocadas; Paris aqui é um exemplo, as motos e bicicletas substituem muitos carros que andariam como um pessoa só, e milhões deles preferem o ótimo metrô, mas voltamos nisso mais tarde.
Motos, carros e bicicletas competem e convivem, as ruas são muitas vezes lotadas, sem que os congestionamentos sejam endêmicos. Uma cidade tão antiga com centenas de construções, que não podem ser tocadas; Paris aqui é um exemplo, as motos e bicicletas substituem muitos carros que andariam como um pessoa só, e milhões deles preferem o ótimo metrô, mas voltamos nisso mais tarde.
No primeiro dia nos perdemos muito e
andamos a toa, o segundo foi mais produtivo, vimos muita coisa, mas entramos em
poucos dos lugares que fomos. Tudo na vida é uma questão de Logística; mas as
placas não ajudam, aparecem e somem, e te levam a lugar nenhum.
Com o ônibus que faz o tour pela cidade,
fomos para a Catedral de Notre-Dame; de passagem, conhecemos o Palácio da
Justiça, que também é muito bonito (ainda funciona como tal) http://pt.wikipedia.org/wiki/Palácio_da_Justiça_(Paris).
Os carros passam em ruas estreitas, e
bem concorridas; aí a organização da cidade peca, pois entre o Palácio da
Justiça, e a Igreja de Notre-Dame, tem um hospital de emergências. Imagine a
Igreja, o Fórum, os turistas, as bicicletas, pobres carros e as ambulâncias...
Nas ruas percebi algo interessante, se
você olhar para qualquer lado vai ver uma das três coisas (ou mais de uma na
mesma visão): um estacionamento subterrâneo, uma estação de metrô, ou um
estacionamento de magrelas (não que uma moto BMW com teto)
Os estacionamentos são automatizados e estão por toda a parte, não sei se há
alguma interligação entre eles, mas o fato é que se pode fazer um trecho de
carro, pegar o metrô, ou simplesmente terminar a viagem a pé.
É sem dúvida uma intermodalidade fácil e
eficiente (falo do metrô mais tarde).
Na Catedral pegamos um pedaço da missa (pareceu
uma versão resumida para turistas), alugamos um áudio-guia (bem ruim, por
sinal), e fomos tentando entender o contexto histórico em meio a tantas
esculturas, pinturas e criptas http://pt.wikipedia.org/wiki/Notre-Dame_de_Paris.
Mais de 1000 anos de história bem
conservada; mas se você não souber que é uma igreja, vai sair de lá um pouco
confuso, não sabe se é um museu, ou um centro de compras. Há vendas de
tickts para um pequeno museu, máquinas de mapas e velas, aluguel do audio guia,
e outros comércios. Impossível não lembrar de Jesus derrubando as
"vendas" em volta do Templo, na passagem marcante do Envagelho.
De volta ao ônibus, até a Champs Elysés almoçamos
e fomos andando até o Arco do Triunfo. Andamos um pedaço da avenida e entramos
na loja da Lui Viton (entrei com a mão bem firme no bolso, e lá ela ficou...)
Enquanto eu fazia cara de conteúdo na
loja, vi uma van da DHL parada na porta, claro tinha que fotografar, Champs
Elysées, Lui Viton, DHL... não quis lembrar das entregas que tenho que fazer de
barco em um afluente do Rio Negro, depois de 15 dias de viagem, ou em algum
lugar sem estrada e sem estoque, mas com cliente bravo... (inveja é pecado
pequeno e não mata...)
Mas a carga, como chega em Paris?
Nas ruas com muito comércio e turistas,
não circulam muitos carros, o trânsito não é ruim, e sempre se encontra lugar
para os veículos de carga pararem.
O tanto que pude ver, não havia
restrição de horário ou circulação; porém a farta distribuição de
estacionamentos públicos e subterrâneos com uma dose forte de “proibido
estacionar”, a vans e caminhões pequenos param e descarregam rápido. Em
contrapartida não se vê estrutura dedicada para descarga, ou esquemas montados
para entregas noturnas.
O comércio forte para turismo, com um
metro quadrado caríssimo, traz uma infinidade de lojas pequenas; pouco estoque,
muitas entregas.
O tempo todo se vê vans circulando filas delas estacionando, entrega de
pequenos volumes.
É claro que não há uma organização central, conceitos de colaboração entre fornecedores, ou consolidação de alguma forma. É provável que a equação espaço x mão de obra não permita a logística noturna.
O Transporte Urbano de Paris funciona
muito mais pela eficiência do transporte público, do que pelo planejamento da
carga. Essa é uma conclusão conceitual óbvia, que se constata na prática; mas
não parece ser tão evidente em São Paulo, por exemplo.
Andamos 2 quarteirões até o Arco do
Triunfo, a obra é magestosa e de visista obrigatória, mas 15 minutos foram
suficientes (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arco_do_Triunfo_(França)).
A última parada do dia foi o Hôtel des
Invalides, onde está o túmulo, de Napoleão, um museu de armas antigas, e
homenagem à heróis de muitas das guerras que a França lutou. O lugar que o próprio criou para cuidar dos
inválidos que voltavam das guerras, hoje é um dos pontos menos badalados; tanto
que ainda funciona como uma casa de tratamento para pessoas com doenças mentais
Caminhando para o museu se vê os pacientes, meio surreal.
Chegamos alguns minutos depois
das 6h, o museu estava fechado. Queria ter visto o túmulo do Napoleão, uma
pena.... (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hôtel_des_Invalides
)
No dia seguinte, saímos do hotel antes
das 8h, fomos para uma agência de viagens de onde sairia nosso ônibus para
Castelo de Versalles.
O percurso de ida foi bom, sem trânsito;
interessante é que também para sair da cidade estava muito tranqüilo, pensei
que a cidade funcionava muito bem com os trens e a fantástica rede de metro; ou
talvez o Frances acordasse mais tarde....
O Palácio, que na verdade é constituído
do castelo principal, um conjunto imenso de gardens, e dois outros castelos
menores (Trianons)
Era sábado, o lugar estava muito cheio,
principalmente o Castelo, porque a maior parte fica por 4 a 5 horas, e depois vai
embora e não fica para ver o Jardim e os Petits Trianons
No Castelo, a visita foi bem difícil, uma
verdadeira multidão de orientais empurrava e tornava penosa qualquer
aproximação do que se havia para olhar. Pra ser sincero e politicamente
duvidoso, os chineses estragaram o passeio (mas falo deles depois).
Não havia surpresas, mas de fato vale o
sacrifício; tantos as obras quanto o mobiliário são fascinantes, mas
impressiona mesmo a história, e entender um pouco (ou imaginar) o cotidiano das
famílias reais de Luis IV atė XVI , e o quanto eles devem ter empobrecido o
país para tanta luxúria e extravagância. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Palácio_de_Versalhes)
Ao mesmo tempo que fascina, ofende
qualquer sentido de bom senso, pra comentar apenas um detalhe pouco
relevante, mas emblemático: havia uma sala para as refeições privadas do Rei e
da Rainha, que sentavam em seus tronos com seus filhos em banquetas, nada de
extraordinário se não fosse o fato de que a corte, e outros nobres (duques,
príncipes, etc) ficassem em pé assistindo, como quem assiste a um show (mais
para uma ópera do que um futebol, eu acho).
Agora ficou mais fácil entender a
famosa passagem da história de Maria Antonieta, quando alguém lhe disse que o
povo estava revoltado, por não ter pão, e ela muito brava disse: " que
comam brioches"
Agora entendo a revolta do povo e a
ignorância da rainha quanto à realidade fora do castelo.
Me perdoe a Sua Majestade Luis XVI, mas
agora também entendo a guilhotina.
Na volta, a chuva trouxe o mesmo desgosto
na entrada da cidade que na vinda do aeroporto no primeiro dia: definitivamente
chegar e sair de Paris não é exatamente um exemplo a ser copiado.
No dia seguinte enfrentamos o bicho
assustador: o Metrô. Não se engane, ou o sub-estime o bicho é bom, mas complexo.
Muito comum ver turistas mais que perdidos, sem ter a quem perguntar.
A maior parte das estações não há
pessoas pra informar, se quer vender passagens (se vira com a máquina, se
quiser...).
Indo à Paris, ande de metrô, mas planeje
bem o itinerário antes com a recepção do hotel; pode também arriscar com os
poucos funcionários disponíveis e que falam Inglês.
Falando do Metrô: é fantástico.
São 16 linhas, se vai a qualquer lugar, mesmo.
A figura tabela a seguir fala per si, e é mais uma triste comparação com nossa realidade. Veja a quantidade de km por habitante, ou a ocupação, ou qualquer outro triste indicador.
Paris tem de funcionar, São Paulo não
São 16 linhas, se vai a qualquer lugar, mesmo.
A figura tabela a seguir fala per si, e é mais uma triste comparação com nossa realidade. Veja a quantidade de km por habitante, ou a ocupação, ou qualquer outro triste indicador.
Paris tem de funcionar, São Paulo não
Do medo ao respeito, fomos de Metrô para
o Parque de Luxenburgo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_de_Luxemburgo).
O Parque é lindíssimo, o maior de Paris,
florido mesmo no outono, mas parece um museu a céu aberto; estátuas de todas as
rainhas e outras damas nobres desde a idade média. Foi muito interessante
observar os nomes das moças, dinastias famosas do Reino Unido, Itália (Médice),
e até ancestrais de nosso brasileiríssimo D. Pedro, uma Senhora Bragança.
Aproveitei pra contar um pouco, para
minha filha, um método que os reis usavam para fazer paz e diplomacia:
despachando suas filhas para casarem em outro países, ainda
"infantes". Ela se decepcionou um pouco com a possibilidade de
ser princesa, mas não iria mesmo...
Se podia ver franceses lá (do tipo
morador de verdade), andando, correndo e várias praticando Tai Chi, Yoga, e até
lutas de espada (de madeira, com um chinês).
Novamente no Metro, fomos para o Museu
D'Orsay (http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_d%27Orsay),
Era o primeiro domingo do mês, então,
todos os museus são gratuitos. A fila era grande, mas conseguimos entrar em
pouco mais de meia hora.
O museu é fantástico, a coleção de
pinturas dos impressionistas é a mais importante do mundo, inclusive mais que a
do Louvre. As obras mais importantes de Renoir, Gogain, Monet, Manet, Degas, e
Van Gogh, estão lá, inclusive uma das obras mais importantes de todos os
tempos: O Auto Retrato.
Duro de confessar, mas gostei mais do
D'Orsay do que do Louvre, você não precisa concordar, mas se gosta dos Mestres
Impressionistas não perca.
Já era noite, fomos para a Torre Eiffel.
Queríamos ver a Torre oferecendo a Cidade Luz
O passeio é clássico, não foi complicado
ou penoso, a demora foi grande, mas muito menor do que estávamos esperando. A
subida é organizada e a visão da cidade cumpre o que promete.
A engenharia é fantástica, é fascinante
imaginar como a obra foi feita de forma tão perfeita e em tão pouco tempo. Vale
a pena conferir sua história e as novidades tecnológicas e auto-sustentáveis que
estão sendo programadas para ela, de quebra ver o próprio Eng. Eiffel (em cera
ou embalsamado talvez) seu escritório, restaurado e conservado no topo da Torre.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_Eiffel)
Último dia em Paris, fomos ao
Louvre. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Louvre e http://www.louvre.fr/)
Chegamos quase cedo, por volta
das 9:00h, mesmo assim mais de 1,5h para entrar.
O prédio em si já vale a visita, era o
castelo (ou palácio) que abrigava os reis da França até Luis XIII. Imagine que
largaram o Palácio porque a cidade tinha tanto lixo e tão infestada de doenças,
que foram embora de Paris.
O museu traz mais de 3000 quadros, e o
mais famoso deles; descobri que a França roubou a Monalisa de Leonardo.
Foi mais ou menos assim: ele passou
parte de sua vida em Paris, meio que trabalhando, meio que refugiado. Quando em
tempos de quase paz resolveu voltar para a Itália, confiscaram sua bagagem e
ficaram com esse quadro, entre outros que estava em sua mala, uma pequena
recordação.
O Louvre é muito cheio, de gente (muito,
mas muito chinês) e cheio de obras com pouca orientação visual; frustra um
tanto não ter informações disponíveis, se você alugar um audio-guia é bom que
seja craque em vídeo game, pois o simpático é um 3D Nintendo (você paga para
que façam marketing), desisti dele em 10 minutos (sou do tempo do fliperama).
Paris não surpreende, mas não decepciona.
Talvez não surpreenda porque aprendemos
a desejá-la desde sempre, mas não decepciona porque entrega o que promete.
Um Abraço e Obrigado ao improvável leitor
Douglas