2012 foi um ano normalmente atípico, não é um
paradoxo. Logística é sempre assim.
Se a economia vai bem, a logística vai bem mais
ou menos; se a economia cai, a logística despenca; se a economia despenca, os
embarcadores fazem BID, os preços caem, e os custos sobem.
Outro contrassenso? Não.
Explico: se o movimento do mercado é baixo,
vende-se menos, não há tempo e nem tranquilidade para planejar custos menores,
somente baixar preço de compra e venda. O espírito de sobrevivência fala mais
alto. Para se vender mais é preciso gastar menos; o que estranhamento não tem
nada a ver com redução de custos.
As Empresas demitem, ou não investem, querem
colocar os produtos antes de seus concorrentes e gastar menos; menos estrutura,
planejamento rompido, fornecedores com custos fixos para pagar, medo da morte,
BID rima com queda de preço.
Se a queda de preço viesse com aumento de
eficiência, o mercado como um todo ganharia; mas assim as empresas que fornecem
serviços de logística empobrecem e os embarcadores sofrem com a imediata queda
de qualidade.
É mais do que um ciclo, é uma maneira de viver;
parece que o povo gosta assim. Mas há algo bem pior: fortes oscilações ao longo
do mesmo ano. Meses que formam uma montanha russa. Não se consegue prever um
mês à frente.
2012 começou com esperança com cara de certeza,
e o ano não começava e acabou virando prejuízo desesperado; fomos da euforia às
lágrimas sem passar pelo meio, que nos avisaria.
O primeiro semestre foi pior que 2010; as
empresas tinham orçamentos altos, investimentos feitos e por fazer. Não vendia.
No começo do ano, veio o sinal claro que o
mercado não quer ver, ou ofusca a vista e não se consegue olhar. Não é dólar, o
euro, ou crise fiscal nos EUA; não é a China. Todos sabemos que o que move a
vida (do) real no Brasil é o Mercado Interno.
Os Sinais:
(1)
Vermelho:
grau de endividamento da população aumenta (não tem sinal amarelo, vai do verde
pro vermelho);
(2)
Roxo
(ou a cor que você escolha pra significar que parou tudo): grau de
inadimplência aumenta.
A Logística é a primeira que sofre e a última
que a reage.
Quando o mercado assusta a logística apavora, e
pára. O mercado passa a consumir os estoques da ponta, depois o pipe line, e aí
passa da mão pra boca; ou seja, não tem mais planejamento, os custos têm de
cair, não há estoques porque não há confiança, quando o consumidor compra, aí
que o produto começa a se mover. Já que Just em desespero, é preciso
eficiência, rapidez para não perder venda; isso tudo em um momento de
desinvestimento, queda de produtividade, e preços baixos. A equação não fecha,
aumento consistente mesmo só stress e pressão arterial.
Assim foi o ano? Não, pior.
O mercado deu sinais de melhora em outubro,
todos pensaram que era só o preâmbulo do pico de Natal, mas era o prenuncio do
fim do mundo (e não era Maia).
Pipe Line vazio, a infra de sempre, sem nunca
ter existido; virou o conhecido inferno brasileiro: quando tínhamos com o que
mover a economia, ela parou; quando paramos e sentamos para chorar, produtos surgiam
por todos os lados, e não conseguíamos transportar.
Um pico de ano desproporcional ao ano que
vivemos.
A Olimpíada foi um fracasso de vendas (quem
duvidava do poder da TV Globo ....), um junho com cara de janeiro. Um último
trimestre que mostrou um PIB ridículo trouxe um volume impensável, impossível e
impraticável.
Os Medicamentos são termômetros importantes (perdoe
me os médicos por usar drogas para medir infecção da logística); o volume vendido
pelos laboratórios foi pelo menos 20% maior que o mesmo período do ano
anterior.
Faz sentido vender telefones e televisões,
tênis e roupa no fim de ano; tudo em nome do pico, pelo bem do pico e para o
pico; mas haja alpinista pra tanto pico.... mas pico de remédios também?!
Faltou logística para a maior parte do consumo.
Inferno bem brasileiro e sambista. Até o futebol não resistiu em nos deixar
zonzos ... Palmeiras Campeão depois de muito tempo e na segunda divisão;
Corinthians que nunca teve passaporte foi campeão da Libertadores e do Mundo,
só o Tricolor foi normal!
Mas vamos lembrar mais de 2012. O ano do CTE,
PAC que só ameaçou (de novo), Lei do Motorista. A Infraero que disse que ia
resolver tudo, foi premiada por sua indiferença histórica e ganhou mais investimentos públicos; como agradecimento
travou as cargas nos aeroportos do Brasil Inteiro.
A vontade do consumo com a fome de gastar levou
mais gente às estradas ruins, tempos de carga e descarga cresceram na proporção
do desespero de caminhões sem motoristas, e das restrições de circulação.
Esse também foi o ano que as Marginais paulistanas
se divorciaram dos caminhões.
Esse foi o ano que o PCC e polícia ficaram de
mal, mesmo. E aí? Mais roubo de carga.
Com a Lei do Motorista o Governo deu um tiro de
canhão pra matar o carrapato do cavalo, aleijou o pobre, e o carrapato ainda vai
nos coçar por muito tempo.
Nesses meus quase 30 anos de estrada, nunca vi
tanto estrago no mercado quanto essa canetada; não tem motorista no mercado que
a Lei do descanso poderia trazer.
Vamos ver no que dá, mas não é preciso ser
economista para imaginar o resultado dessas contas:
· 82%
da carga vai de caminhão
· Os
custos do Transporte Rodoviário estão aumentando em 30% (soma-se ao custo do
motorista a queda da produtividade do caminhão, portanto com prejuízo na depreciação
do equipamento e remuneração do capital);
· Mais
tempo para levar a carga, aumento relevante do estoque nas pontas e em trânsito;
· Mais
caminhões parados na rodovia e nas ruas, esperando a banda passar;
· Mais
caminhões soltando fumaça pra transportar a mesma carga;
Como se aquece a economia com aumentos de
custos dessa ordem, como se mantém a inflação baixa com esses aumentos de
fretes, que hão de vir?
Não chora (ainda) que
estraga o teclado e o ipad, vou aliviar um pouco....
Também foi o ano que se investiu pesado em
pesquisas; há muito tempo não se via poder público, universidades e empresas virados
para o mesmo lado.
2012 se falou em Hubs, terminais intermodais,
inteligência na distribuição urbana com entregas noturnas, Logística
Humanitária e privatizações de infra (Ela não gosta que use a palavra
privatização...).
Tecnologia está sendo usada de maneira mais
útil, e não como enfeite de luxo. Será possível roteirizar em tempo real, o que
vai melhorar a eficiência e reduzir o tráfego. Novo diesel, e mais eletricidade,
em empilhadeiras e carrinhos, vai reduzir poluição; também vai se colher algo
do sofrimento plantado na NFE e CTE, a logística reversa vai melhorar, as
filiais vão ser eletrônicas e a troca de informação mais rápida. Os caminhões
não vão rodar em vão para buscar o CTRC. Espera-se menos papel e quem sabe o
fim do absurdo do POD (ou famigerado canhoto).
O Inferno depura um tanto, sofrimento faz
nascer sobreviventes, mas se perdem companheiros pelo caminho (como a Ramos de
mais meio século, que veio a óbito); e novos fortões como a FEDEX e UPS vêm pro
playground; deles esperam-se mais profissionalismos e menos desespero nos
preços.
Pra Frente Brasil, salve o Felipão; o volume do
pico que nos sufocou há de nos dar esperança de novo.
Que venha um 13 ma is para Zagalo do que para
Jason.
Que seja de fato novo, o ano que começa.
Obrigado e um abraço ao improvável Leitor.