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Lei do Motorista: Decifra-me ou te devoro



Em todo o tempo que tenho de estrada, nunca vi um estrago tão grande quanto essa lei esta fazendo. As pessoas não entendem, porque fica uma conversa de surdo e mudo. 

As Transportadoras não contam como os custos aumentaram, e tocam a carta da NTC como que colando o zape na testa do embarcador.
Simples assim. Na verdade mais simples seria ir para o Egito, encarar a Esfinge e decifrá-la.

Mas vamos lá, aqui não é  o Egito e esfinge não é caminhão.

Claramente há dois componentes nesse caos: custo e mercado.

A primeira armadilha é achar que só os custos adicionais com motoristas respondem pelo aumento de frete que se apresenta; e inocente pensar que  os Transportadores não estão recuperando margem com a crise.

Mas vamos fatiar a pirâmide em bifes antes de devorá-la. bife de custos e bife de Mercado; um deles está bem duro e outro sangra no prato.

Custos:
Aumentaram mesmo, mas há componentes que vão além de salários de motoristas adicionais e horas extras; aliás isso é o que menos encarece o frete nesse imbróglio. Raros são os casos que os tais motoristas adicionais aparecem.

Então:
1- Não há motoristas suficientes no mercado para rodar a lei antiga, muito menos teriam para rodar na Lei nova. 
3-Não surge motorista do nada, ou da caneta da Dilma. Ninguém mais quer ser motorista, não tem motorista! Não tem!!!
4-Qualquer pesquisa no mercado vai constatar que o número de motoristas adicionado ao processo é irrelevante; portanto não são os motoristas adicionais que estão trazendo mais custos para as viagens de longa distância. Deveria, mas não são.
5-Para fazer rodar 24h por dia, é preciso 3 motoristas e não 2,  como muita gente pensa; desta forma seriam necessários 3x mais motoristas e toda a estrutura de troca (alojamento, comida, etc)
6- O Fator que mais impacta nos custos pós lei é a perda de produção do caminhão. O caminhão é uma máquina como outra qualquer, tem de produzir para ser viável; produzir entregas, transporte de carga. Km rodado é o indicador de produtividade; o tempo de trabalho é meio, e não fim. A máquina sem operador não produz o suficiente, simples e óbvio assim.
7-O que não é óbvio, mas deveria aos profissionais de logística, é que todos os custos fixos crescem quando o caminhão não produz. É preciso mais caminhão e motoristas para entregar a mesma carga, o ativo é menos utilizado e a prestação do caminhão fica mais pesada.
8- Mais motoristas ou mais caminhões pra entregar a mesma carga, custa mais, ponto. Os Transportadores não têm motoristas e não sabem o que fazer, além de aumentar o frete.
7-Para as viagens de curta distância, as pessoas não entendem porque a lei impacta. Impacta porque motorista esperando, esperando, esperando, esperando, esperando para carregar, descarregar e no trânsito está trabalhando, e ganhando; então é preciso motoristas adicionais para esperar também. 

Resumindo a esfinge dos custos: está mais caro no diesel, no pedágio, no investimento, na (falta de) estrada, como sempre; e motoristas mais caros, como nunca.
A Lei do motorista tem o mesmo efeito dos impostos inventados, não há como fugir e vai acabar no bolso dos coitados consumidores, mas até lá o mercado reage como barata tonta.

Mercado:
O frete aumentou mesmo, dessa vez as empresas de Transportes por intenção, reação, ou infecção conseguiram pressionar o mercado, tipo assim: a tabela virou, aceita ou te devoro (entenda-se: deixo a carga no chão). 
Mas por que dessa vez o mercado subiu mesmo os preços?

Então:
1- 2012 não acabou. Os volumes do pico e fim de ano geraram back-log e trauma. Os Embarcadores não querem correr risco de perder venda. O pipe line da cadeia logística esvaziou na crise e ainda não encheu.  
Isso tudo significa que os volumes de Transporte que caem no começo de cada ano, não despec tanto assim, só trupicaram.
Não há fenônenos isolados no capitalismo global, o PIB foi pífio em 2012 com uma inflação irreverente; assim está sendo com a Logística, a quantidade transportada é maior proporcionalmente do que o cnsumo. Isso é encher o pipeline com produtos,  empurrando a demanda guela abaixo..
2- O volume mais alto manteve oferta e demanda de transporte em um equilíbrio desvarovável aos demandantes; mas se os volumes foram altos para o primeiro trimestre e mais baixos que o pico do Natal, por que? Por que?!!
Porque faltou muito caminhão e agora está só apertado, só bem apertado.
3- A quebradeira de Empresas de Transportes pequenas  e grandes, famosas e anônimas trouxe medo e segurança; medo de quebrar, segurança de que era hora de aumentar o frete. Quer Transporte??? Pague por ele.
4- A NTC de Grande Pirâmide, tornou-se a esfinge devoradora. Por que o Sindicato tentou por tantos anos mobilizar as empresas e só agora conseguiu? Porque a situação está insustentável. O desejo de matar o concorrente amigo deu lugar à necessidade de sobrevivência, simples assim.

De$rando....
A indignação dos compradores de Transporte está no fato de que as empresas não querem explicar rota a rota, motorista a motorista, gota a gota de diesel aonde está o aumento.

Até hoje os clientes faziam o preço, e os custos dos Transportadores referências meramente balizadoras.
Mais ou menos assim: qual o custo de um copinho plástico de água, e qual o preço dele no sertão a centenas de milhares de km de qualquer coisa, às 3h da tarde?  

Escrevi algumas vezes, e tratei disso muitas vezes em sala de aula: preço e custo são coisas bem diferentes; pelo menos a partir de agora são em Transporte de Carga no Brasil.

Na prática as Transportadoras dizem: o custo aumentou, o nosso custo aumentou;  e o seu preço mudou.

Se não puder Transportar, ou melhor, decifrar a Esfinge é melhor ir construir Pirâmides.

Obrigado e um Abraço ao improvável Leitor

Douglas

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