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Conceitos de Redes de Transportes

Centro de Distribuição; Milk-Run; Cross-Docking, Transit- Point e Merge-Docking

1. Introdução
Só saber que Milk Run foi inventado para coletar leite nas fazendas, ou achar que cross-docking é um lugar que a carga passa rapidinho, não é legal para profissionais da área

Então, objetivo desse artigo é trazer algumas definições de elementos de Redes de Transporte para o Transporte Rodoviário de Carga (TRC).

Cross-docking não é um lugar, é um conceito.
Conhecer os conceitos permite a aplicação correta, portanto buscar possibilidades de otimização da cadeia logística; ou seja, maior eficiência com maior ganho financeiro.

No final do dia o resultado é o que importa.

Esse artigo é uma revisão de um trabalho que fiz no LALT e publiquei na “Mundo Logística” e traz conceitos e aplicações de Cross-docking, Milk-run, Transit-point, e Merge-docking.

Quais as possibilidades de fluxo e composição desses elementos na formação de redes de transporte?

Embarcar a carga diretamente do fabricante ao consumidor ou utilizar um centro de distribuição?
Antes ou depois do centro de distribuição é importante otimizar o transporte com operação de Milk-run, por exemplo? Usar um transit-point ou um cross-docking?

As aplicações das Redes de Transportes formam mais uma, e certamente uma das mais importantes, ferramentas de otimização da cadeia logística; e um remédio importante em tempos de vírus de crise no ar.

Numa próxima postagem vamos fechar a pesquisa com análises e recomendações para implementação de Redes de Transportes.
Para a análise final, além de experiências práticas, trago fatores de decisão vindos da academia: densidade da carga e distância; valor da carga e demanda.


2. Conceitos dos Elementos de Redes De Transporte.


2.1. Centro de Distribuição.

Já é um conceito de operação antigo e tradicional, o Centro de Distribuição é um local estrategicamente localizado onde se estoca produtos (matérias-primas, produtos intermediários ou finais) e atende as ordens de distribuição para as origens demandantes. O centro de distribuição (único, ou múltiplo) de uma cadeia de logística é localizado depois de exaustiva análise das variáveis, entre outras:
Ø      espaço de estocagem na origem primária
Ø      custos e oportunidades de transporte
Ø      regras fiscais (incentivos podem ser determinantes)
Ø      custo de inventário
Ø      nível de serviço e estratégia de atendimento ao mercado

O centro de distribuição (CD) pode ou não ser inserido na cadeia logística; caso inserido será o elemento mais importante da rede, vai regular estoques, lead times de entrega, modos de transportes e nível de serviço ao cliente.

Optar por ele e determinar sua localização (ou de mais que um) é uma decisão difícil; e não é, para frustração dos “logísticos”, uma decisão somente técnica, ela é principalmente fiscal.

Conheci empresas grandes que montaram CD, com grande tecnologia e capacidade (lindos!) e tiveram um enorme prejuízo; ele não era necessário, aumentou o custo de inventário e não diminuiu o suficiente o custo de transportes; por outro lado montar um CD por conta de um incentivo fiscal transitório, que pode ser revogado por uma lei hierarquicamente superior mata o CD e o investimento.

O CD basicamente visa reduzir o custo de transportes, e melhorar o nível de serviço; porém aumenta o custo de inventário, explico:

Ø      Reduz o custo de transporte à medida que as longas distâncias são realizadas no modelo lotação (FTL), e somente a última perna (last mile) no modelo fracionado (LTL), e ainda para grandes compras ou entregas também a possibilidade de novo FTL para o destino final.
Ø      Melhora o nível de serviço, porque o produto fica mais próximo do cliente, é possível ser mais eficiente do que os concorrentes, mais rápido. Para produtos de decisão emocional, esse é um ponto fundamental.
Ø       A propósito uma decisão de compra emocional é aquela que você sai de casa com seu filho decidido a comprar algo que você realmente não precisa, e dá preferência a uma marca, mas compra outra se a loja não tiver; você quer comprar, então o vendedor te vende a marca que ele quiser. Se o produto não estiver disponível a venda é perdida. São raríssimas as marcas e produtos que fazem o comprador adiar a compra, portanto avaliar o perfil do consumidor e do mercado é fundamental para decidir sobre o CD
Ø      Aumentar o inventário (estoque) é óbvio. Não necessariamente você multiplica seu estoque, mas obrigatoriamente será maior do que o modelo de embarques diretos. Para produtos de maior valor, também é obvio, essa variável é mais pesada e pode anular o ganho em transportes.
Ø      Se o CD estiver agregado a outros conceitos, como Merge-docking, os efeitos de aumento do custo poderá ser mitigado (vamos falar disso mais a frente)


2.2. Milk-Run.

Uma rota de Milk-Run é aquela na qual um caminhão tanto realiza entregas de um único fornecedor para múltiplos destinos, ou vai de múltiplos fornecedores para um único destino (as duas situações, ao contrário do que muitos conhecem), respeitando rigidamente as janelas de tempos pré-estabelecidas para a coleta e/ou entrega.

A operação de Milk-Run tem a maior utilização na logística da indústria automotiva, o conceito se encaixa perfeitamente para fornecedores de autopeças localizados nas proximidades de uma grande montadora, tanto que este conceito foi implementado pela primeira vez no Brasil pela General Motors em 1998.

Este conceito é simples, mas muito difícil de ser bem operacionalizado em função da necessidade do rígido cumprimento dos horários programados (janelas de tempo), o atraso de qualquer dos fornecedores (ou recebedores) invalida a operação. Sé seqüenciar coletas, mesmo que repetidamente não é Milk run.

A questão da janela de tempo determina o Milk-run; tanto que empresta o conceito utilizado em antigas fazendas de produção de leite; onde um conjunto delas fornece leite à cooperativa de beneficiamento, a carroça que realiza (realizava, ao menos) as coletas passa em uma ordem determinada e em um tempo (momento ou janela de tempo) rigoroso, o recipiente do leite tem de estar na porta da fazenda nesse momento, caso contrário a carroça segue seu caminho sem atrasar seu itinerário, deixando para trás o cliente atrasado.

A dificuldade trazida pela complexidade do planejamento ocorre porque as empresas têm de colaborar entre si. Se os fazendeiros pedissem para a carroça esperar ou solicitassem janela de tempo exclusiva, certamente a logística azedaria.

2.3. Cross-Docking

É uma operação de logística integrada (warehousing e transporte) na qual a carga é montada no Centro de distribuição ou em qualquer que seja a sua origem para ocupar um caminhão completo (FTL), visando ser transbordada, em um ponto intermediário (transit-point, por exemplo) diretamente para veículos de entrega (LTL), sem nova armazenagem e em local mais próximo dos clientes.

A carga é cuidadosamente alocada no caminhão de transferência de modo que este contém os “pacotes” exatos a serem re-locados nos veículos menores de entrega.

O processo obrigatoriamente exige uma roteirização prévia, agendamento dos veículos e horários rígidos para as operações. Esta técnica é muito utilizada não só para minimizar o custo de transporte, pois o maior percurso é realizado por um caminhão tipo lotação, mas como também aperfeiçoa as operações na origem, já que evita o acúmulo de veículo pequenos na origem, o que obrigaria um número muito superior e docas de carregamento. Exige, portanto, técnica, planejamento e inteligência de sistema para roteirizarão, agendamento e controles.


Colocando isso tudo de forma simples e direta:
Ø      O caminhão grande é montado de forma planejada, buscando estabelecer dois critérios ao mesmo tempo e para a mesma montagem: família de produto x rota fina de distribuição. O conceito de transportes mais efetivo na montagem da rede de transportes é o cross-docking. Essa ferramenta para merecer o nome de cross-docking, tem de atender esses requisitos.
Ø      Planejamento prévio da carga, considerando:
o       Quantidade de carga compatível com o caminhão e coleta ou embarque; as cargas têm de ser compatíveis e fáceis de serem estivadas nessa primeira etapa, que é a mais importante; a carga é carregada respeitando sua compatibilidade são alocadas no caminhão.
o       Sabe-se exatamente qual o caminhão vai ser utilizado; esse caminhão leva parte de seus amigos para exatamente a mesma micro região.
o       A carga cruza a doca e vai direto para o caminhão que o espera para o trecho final; não participa das atividades de picking, ou handlig, ou armazenagem.

O Cross-docking permite ganhar tempo e eficiência no planejamento, reduz custo de forma muito significativa no transporte. Por que?

Porque a grande parte da carga viaja em caminhão FTL, ou ao menos com as várias cargas consolidadas de forma a encher o caminhão.

O caminhão fica cheio, e o aproveitamento do ativo e a subtração de handlings intermediários podem baixar em alguns casos cerca 23% dos custos diretos.
Importante não há armazenagem ou operação fiscal.


2.4. Transit-Point.

Local destinado à passagem ou transferência dos produtos de um transporte a outro, normalmente ocorre re-despacho dos produtos. Não armazena, ou agrega qualquer inteligência logística ao processo. Importante não há armazenagem ou operação fiscal. Bom não confundir Transit-Point com Cross-docking.


2.5. Merge-Docking.

É uma operação de logística integrada (warehousing e transporte) na qual um centro de distribuição ou ponto de armazenagem avançado (próximo ao consumo) mantém os produtos de alto giro, ou seja, os produtos embarcados com maior giro e mais consumidos pelo mercado.

Os produtos de baixo giro são mantidos no Centro de Distribuição principal (ou na sua origem) e embarcados em operação de Cross-docking no momento em que é demandado pelo mercado.

O princípio é manter uma rota constante de viagens tipo lotação para os produtos de alto giro para o ponto de merge-docking e utilizar parte do espaço dos caminhões para a transferência dos produtos de menor consumo, quando necessário.

O objetivo deste processo é minimizar o espaço de armazenagem no ponto avançado, ao mesmo tempo em que diminuir o custo de inventário do processo; também é uma ótima solução para transporte já que como no cross-docking a maior parte do percurso é realizada em caminhão completo (FTL).

Esse é um conceito relativamente novo, pouco utilizado e que nasceu da prática; tem ainda pouco toma espaço na literatura. Eficiente, inteligente, e simples; a academia nesse caso está atrás da prática.

3.  Introdução a Redes de Transportes

As redes de transportes são ferramentas importantes na constituição de uma cadeia logística e seu gerenciamento.

De uma forma simples e simplista elas são combinações dos principais elementos unitários, como: centro de distribuição; cross-docking; Milk-run; transit-point e merge-docking, buscando a melhor cadeia logística, e a melhor (de novo) é a que traz melhor resultado.

As principais Redes de Transportes, formadas pelas composições dos elementos unitários são:
1- Embarque Direto;
2- Embarque Direto com Milk-run
3- Embarque via CD com Milk-run;
4- Embarque via CD com cross-docking;
5- Embarque via CD com cross-docking e merge-docking.

To be continued....

Referências Bibliográficas

  1. Ballou R. H. Business Logistics Management (4a. Edição). Prentice Hall. EUA, 1999.
  2. Bowersox D. J., Closs D. J. Logistical Management: The Integrated Supply Process. McGraw-Hill. EUA, 1996.
  3. Chopra, S. Meidl, P. Supply Chain Management, Índia, 2004.
  4. Lambert, D. M., Stock J. R. Ellram, L.M. Fundamentals of Logistic Management. Irwin McGraw-Hill. Boston, EUA, 1998.
  5. Lamming, R., et al. An initial classification of supply networks. International Journal of Operations & Production Management. V. 20, n.6, p. 675-691, EUA, 2000.
  6. Levi D. S., Kaminsky P. Designing and Managing the Supply Chain. Editora S-Levi/ Irwin McGraw-Hill. EUA, 2000.
  7. Novaes, A.G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição. Editora Campus, 2004.
  8. Tacla, D. Anotações de Aula. LALT Universidade Campinas. Brasil, 2005.
  9. Tacla, D. Estudo de transporte colaborativo de cargas de grande volume, com aplicação em caso de soja e fertilizantes Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Brasil, 2003.

Comentários

  1. Muito bom artigo, ajuda a elucidar de forma simples as Redes de Transportes.

    Parabéns

    Luis Claudio

    ResponderExcluir
  2. Excelente artigo.
    Esclarecedor de forma objetiva e clara, mostrando as aplicações corretas e diferenças de cada conceito que comumente são interpretados de forme errôneos por profissionais que trabalham com warehousing e transportes.

    Parabéns pelo artigo.
    Paulo Patricio
    Professional transport and logistics
    DHL Suplly-Chain

    ResponderExcluir
  3. Muito bom artigo.
    As operações hoje são muito diversificadas, muitas empresas, tanto clientes finais, como CD's, armazens, transit point's transportadoras tem muita dificuldade em visualizar e moldar seu negócio.
    Fico na espera pelo próximo.
    Att
    Fernando Hashimoto

    ResponderExcluir

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