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Mão de Obra na Indústria de Transportes de Carga no Brasil

Pessoas

Nem tudo no Transporte é Motorista, até porque não tem motorista pra todos.
Quero escrever um pouco sobre o Motorista e também sobre as pessoas que fazem o Transporte no Brasil, quantas toneladas se faz por funcionário?  Eu particularmente nunca havia pensado sob esse prisma. Então pensemos um pouco sobre gente que Transporta.

E o famoso Motorista?

Cada dia mais famoso. Dados recentes do CNT, divulgados pelo "Valor Econômico"dão conta que há um déficit de 120 mil motoristas de caminhões no Brasil.

Por que?

Porque poucos querem ser motoristas, e não só por causa a nova Lei (12.619 de abril de 2012) que diminui a produção diária desse profissional, portanto se requer mais motoristas para levar a mesma carga.
Não que a Lei não tenha feito estrago, ao contrário, calcula-se que a produtividade do caminhão cai em até cerca de 30%.
Mas também não se tem motoristas suficientes porque se gera menos profissionais do que a necessidade, óbvio. As 3 principais razões para isso são:

1- A barra subiu.

As exigências técnicas e de formação básica dos profissionais vem aumentando muito; não só por conta das tecnologias embarcadas no caminhão, mas porque ele é de fato um prestador de serviço ao público, trata do cliente, da carga e da informação. O volante é secundário.
A máquina anda quase sozinha, e ainda de quebra é um perfeito "Big Brother"; qualquer coisa (de errado) que ele faz é registrado, e se grave, informado em tempo real para a torre de comando. Se chove um sensor no limpador de pára-brisas avisa que a velocidade tem de ser menor, se o número de brecadas é grande, a manutenção aumenta e o salário do motorista diminui. Por aí vai, não há limites (nem edredom que salva... é paredão mesmo!).

2- O Dinheiro caiu.

A barra sobe e o salário cai, a equação não ajuda. Interessante e perverso notar que o motorista ganha menos que há 10 anos atrás. Alguns culpados: as crises, as inflações, os sindicatos dos motoristas.
Se de uma forma geral os assalariados perdem para a inflação, o sindicatos ganham batalhas e perdem a mão.
Simples: há dez anos atrás, o motorista ganhava um menor salário fixo, e não tinha direito a horas extras, mas ganhava prêmios e comissão por produção. A legislação que intenta favorecer com as horas extras e conforto, proíbe pagamento de "extras" por entrega realizada ou km rodado. O caminhão produz menos, o transporte fica mais caro, o custo de vida sobe, tem menos motorista que precisamos. A profissão é menos atrativa e o setor mais demandante. Veja que era óbvio, mas nem tanto.
O salário mais baixo espanta crianças que puxam caminhãozinho com barbante (se é que alguém ainda puxa cordinha na era dos games e faces), espanta jovens que estudam, espanta profissionais da área que muitas vezes preferem parar de ficar parado na porta de cliente e nos congestionamentos e ganhar mais correndo menos risco de vida.

Dados bem reais e realistas mostram que o salário desses profissionais despencaram em 10,4% em 10 anos. Em 2002 eu calculava fretes, e fazia projetos com dados que vinham do Departamento Pessoal (ancestral do RH), e comparando com uma empresa de Transportes, em 2013, vemos a seguinte e espantosa tabela:






Interessante que o motorista pesa mais (no custo) do que carrega hoje, mas leva menos.
Veja o bônus por produtividade em 2013, não vê porque não tem.

Espanta ou não espanta?

3- A escola apareceu (não a educação)

O salto social, e a melhora de indicadores educacionais da escola básica, combinados com o item acima (de salário pra baixo) fazem da vocação à motorista rara.
Estuda-se mais, e por que alguém que estuda vai ser motorista? 
O próprio Setor de Transportes atrai ex potenciais motoristas, o cheiro de liberdade perdeu o perfume e o gostinho da escola faz profissionais de logística.
A quantidade de anos que um profissional de logística fica na escola é de 7,4 anos (Fleury e Wonk), e com esse estudo pode-se chegar a, talvez, um coordenador. Veja a tabela abaixo, com dados reais da indústria:










O volante das empilhadeiras e os bancos dos escritórios atraem mais que volantes e bancos de caminhões.

E o pessoal?

Pra começar também falta, pra acabar falta formação para o que não falta.

O Pessoal de operação que temos hoje conhece muito a operação, mas não teve tempo de estudar. A nova geração vem com mais escola e se encontra com os com mais experiência; mas infelizmente ainda falta tanto experiência quanto escola. 7,4 anos é menos do que o primeiro grau.

Temos gente de talento, brava e eficaz; temos que investir em treinamento, atração e retenção, pois se você pensa que está faltando, vai sofrer depois de acabar de ler esse textinho.
Fiz uma conta simples, e que confesso nunca havia me ocorrido. Quantas pessoas precisamos para transportar uma tonelada útil?

A tabela abaixo vem de dados absolutamente reais e atuais, porém registre-se sem nenhum valor estatístico.

Fontes:





Pra reforçar, a transportadora de carga fracionada precisa de 1 funcionário para transportar 15 toneladas, é muita coisa, ou se preferir pouca tonelada!
Para a carga lotação ponto a ponto, necessita-se muito menos, na empresa pesquisada se transporta 213 toneladas por funcionário, mas também é muito pouco.

Se combinarmos alguns dados do IBGE, ANTT, e crescimento do PIB, vamos ver alguns números interessantes na tabela abaixo:


Aqui, fiz uma elucubração livre, coisas que essas coisas de blog permitem. Usei dados da ANTT e CNT para a quantidade de carga útil transportada (são dados de anos anteriores atualizados pelo PIB); Ton/Func uma relação dos números que calculei ponderados em estudo do IBGE para a Indústria de Serviço/Transportes de Carga. As projeções foram feitas na possibilidade otimista que o PIB, e portanto a carga transportada, vai crescer 5% aa.
Tudo isso pode não estar muito certo, mas com certeza não está tudo errado, vamos ter mais de 3, 1 milhões de pessoas trabalhando em transporte rodoviário e ferroviário em 10 anos.
A questão é: vamos ter essa quantidade de gente? E se tivermos, estarão preparadas?

Ainda dá?

Produtividade....
As contas levam a essa enormidade de pessoas, considerando que o Brasil vai crescer bastante e que a Indústria de Transportes não vai ganhar nada em produtividade. É isso que precisamos mudar.
O número de motoristas para levar uma tonelada, e os funcionários pra empurrá-la tem de diminuir proporcionalmente.
É simples! Pode não ser fácil, mas é simples, só alguns pontos básicos para perseguir:
  • Descarga noturna
  • Melhorar (muito) a performance de carga e descarga
  • A Ferrovia funcionar
  • A Cabotagem funcionar


Atração! se não é fatal...

É preciso alegria, a profissão tem de voltar a ser valorizada. A sociedade tem de investir em educação e respeito, investir em políticos que resolvam a questão de Infraestrura (me recuso a reclamar de portos, estradas, ferrovias, etc, etc, etc... de novo).
Se não melhorarmos a segurança e condições de trabalho, e a remuneração não crescer mesmo, o custo de Transportes vai aumentar desproporcionalmente; não é contra-senso, o déficit de motoristas vai deixar mais e mais caminhões parados, a oferta de transportes vai cair frente a demanda, o preço aumenta; a produtividade cai, o custo aumenta de novo, um ciclo infeliz.

Em suma...
Aumentar a produtividade de Transportes para diminuir a demanda por gente; atrair e reter motoristas com melhores salários e condições de trabalho, colocar o caminhão em seu lugar: nas pontas e em distribuições urbanas.
Em suma: tem muita coisa que, nós da sociedade, precisamos fazer enquanto esperamos que o Governo faça o que deve, e quanto deve...
Vamos ser melhores e dever menos ao futuro.


Um abraço  e obrigado ao improvável Leitor.


Douglas

Comentários

  1. Caro Douglas boa noite!

    Muito bom seus textos, cheguei aqui por acaso procurando alguns complementos para meu TCC.

    Espero ler mais.

    Grande abraço!

    Att.
    V. Almeida

    ResponderExcluir

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