Para lamentar sobre o ano
de 2014, eu teria que pegar uma fila grande. Falar da crise, falar de falta de
investimento em infra e corrupção aumenta a depressão e faria o leitor,
cansado, não terminar de ler o parágrafo. Então como contribuir com uma reflexão
útil de fim de ano?
Não é mais difícil do que
explicar porque meu telefone não tocou por falta de caminhões no pico de fim de
ano (mais para picuinha do que pra pico). Tentemos algo mais útil.
A indústria de Transportes
no Brasil é muito frágil, e por isso o efeito de uma crise econômica é
devastador para ela.
Em um país com uma matriz de
transportes muito rodoviária, a frota nacional é formada por muitos carreteiros
e pequenas empresas de 2 a 4 caminhões, cerca de 80% dos que rodam ... ou nem
tanto.... Os grandes frotistas estão desaparecendo. Por causa das leis
trabalhistas, custos e mais custos, complexidade fiscal, dificuldade de mão de
obra, e assim vai.
Nesse cenário, o poder de
investimento dos players, e mesmo a sustentação em momentos difíceis é baixo,
ou quase nenhum, numa parcela bastante importante do mercado. Justifico com uma
pergunta: como um carreteiro, ou mesmo uma empresa familiar com 3 caminhões
pensa no futuro em um momento como o que passamos?
Que momento que passamos?
Custos pra cima, fretes pra baixo.
Do outro lado da corda, os
tomadores de serviço não vendem, então renovamos o velho ciclo: Diminuem-se as
vendas, se tem produto pronto e estocado na cadeia toda; assim o transporte breca primeiro. Quando consumo reage
devagarinho o tubo logístico está cheio, e então tem de se consumir o estoque
das lojas, e depois girar os distribuidores do retail, depois rodar os CDs, e
depois.... só depois o Transporte acelera
.
Vendendo menos, primeiro
custo que se corta é de transporte, como? Abre-se um BID (concorrência). Nada
mais fácil e efetivo, sempre aparecem preços mais baixos. Transportadores de
todas as cores e times estão apertados, e rodam pelo variável, rodam pra não
parar, meio como: "nois tomba mas não
breca!"
Tomba sim. Tombam preços, tombam
investimentos, depois impostos, depois salários, depois...tá tombado.
Uma crise empurra os preços
para baixo sem a adequada contrapartida na redução de custos; ao contrário, o
Transporte é extremamente dependente de volume que falta na crise, falta assim carga
para consolidação, sobram hubs, não tem last
mile para frota toda e os custos fixos estão esperando com a boca aberta.
Frustrante perceber que o
mercado tomador/prestador de serviços de Transportes precisa ainda de visão de
longo prazo, e mesmo de cuidados básicos de sustentabilidade; em nome do budget
desse ano: os embarcadores buscam menores preços; para sobreviver esse ano: os
transportadores aceitam o preço mais baixo. Pessoas treinadas são demitidas, e motoristas
buscam outra profissão, mesmo que não sejamos, tipo assim, tão pródigos nesse
recursos.
Se 2014 foi difícil, 2015
não será fácil, mas me preocupa ainda mais 2016 e 2017; o Brasil tem de crescer
e como estaremos quando isso acontecer? A caça vira caçador? Quem sobreviver
vai jogar os preços pra cima? A frota que sobra e que diminui pela velhice vai
atender o crescimento? Não deveria ser assim...não deveríamos deixar.
Que o ano novo traga mais
profissionalismo e planejamento, que 2015 seja repleto de saúde para nós todos
e para nossa indústria; que seja de paz entre contratantes e contratados, que sejam
fortes os resultados, mas que sejam também prósperos os anos que virão.
Abaixo aos custos, um
brinde à Produtividade e Sustentabilidade do Transporte!!
Feliz 2015 ao improvável
leitor.
Douglas
Comentários
Postar um comentário