Eu estava na estrada, Bandeirantes, indo para uma de
nossas operações e quando tenho tempo paro em um posto, desses com restaurante
grande que vende de tudo (tem até uma capelinha onde rezo 2 minutos e levo um
santinho quando a coisa tá feia). O restaurante + posto de gasolina vêm dos
anos 60, é tradicional e têm filiais por aí, mas talvez envergado pelo tempo ou
pela economia, abriu uma entrada para o Big hambúrguer. Você sabe como é, passa
pela porta, pega a tradicional comanda plástica, aí decide se vai no
semolina ou no molho especial.
Pois bem, eram quase 8 horas, eu estava com pressa e
decidi levar um café e continuar a viagem, quase 8 horas eu disse. Perguntei
para a senhora da comanda se o lado da direita já estava aberto, só pra pegar o
café, não era de hora do lanche feliz. Ela disse: 'Se a porta abrir...' abriu,
entrei e como nenhum(a) atendente me olhou por um bom tempo, apareceu um
supervisor e até atencioso, perguntou qual era meu pedido, eu só queria um café
pra levar; uma das atendentes que havia me ignorado recebeu a ordem do chefe
pra pegar o café, de desprezado fui promovido à desprezível.
A atendente estava meio que de frente pra mim, para
poder colocar o café no copo, o supervisor de costas, mas ficou fácil entender
o diálogo
Ela: 'mas não são 8 horas' (a essa altura era mais que
quase 8 h)
Ele: 'tem um cliente ai'
Ela: 'mas por R$ 5
Eu (que não resisti): não pelos 5, mas para atender um
cliente
Ele: mudo me deu o café
Ela: nem aí
A idéia aqui não é lamentar ou improvisar um 'reclame
aqui', mas discutir o que se perde entre as palavras treinamento e educação.
O que é educação? Qual a missão da escola, da família
e da sociedade? Qual o investimento e esforço que uma empresa deve fazer em
treinamento para compensar o gap que fica por conta da (falta) educação?
Esqueça por um momento o lucro, e foque na missão
social da empresa, é justo que ela cuide de dar ao empregado o que deveria vir
do berço? Ao menos ela estaria contribuindo com a sociedade e com o indivíduo.
Lembre agora do lucro, como colocar funcionários educados
e treinados, que além de atender dignamente o cliente, será produtivo. Quanto
custará esse funcionário? Bastante.
Vamos simplificar com aritmética básica e imaginária,
consideremos que o melhor funcionário do mundo seja nota 100. A minha quase
amiga do café seria uma nota 2? Ela não assimilou o treinamento, ou não tinha
educação de base suficiente para assimilá-lo; não se importou com o ser humano
(me auto-promovi agora); não pensou que poderia colocar sua empresa e a ela
mesma em um blog e na cabeça de uma porção de gente insatisfeita e de língua
solta; não pensou que perenizar sua empresa e que muitos clientes de R$5 geram mais
clientes, e felizes comem duplo especial gerando lucro, que geram oportunidades
de crescimento para quem está lá e no mínimo paga pelo seu trabalho, que move
sua vida e dignidade. Mas ela é nota 2, mal educada, e possivelmente bem
treinada com zero resultado prático e deliberadamente não deu a mínima para a
empresa, cliente e sem saber, para ela mesma. Mas de novo, a moça não é o assunto.
Voltando ao tema: como ter um funcionário nota 100 só
com investimento em treinamento se ele tem uma educação nota 2? Será que um dia
o investimento em treinamento será suficiente para cobrir o buraco da educação?
Não, nunca.
Recuso-me a culpar o governo, aliás, culpar o governo
é como culpar os próprios dentes por ser gordo ('Demo-cracia').
Se continuarmos a reclamar, treinar como nunca e
educar como sempre, continuaremos todos a sendo clientes de R$5... e assim
nossas empresas, sociedade, e país. Educação nota 2, país
de R$5.
Obrigado e Abraço e ao improvável leitor
Douglas
Concordo com texto .... a vitimizacao impede de pelo menos tentar ser educar ..é mais facil ser ignorante e culpar os outros ...mas vamos continuar tentando ...
ResponderExcluirAcho que essa "educação" (ou falta dela, na verdade) se dá principalmente, por conta da ausência de instituições fortes capazes de enxergar e formar as pessoas de maneira integral... Daí vemos essa apatia, mediocridade e falta de sentido, na vida profissional, por exemplo.
ResponderExcluirAcredito que a maneira em que as empresas poderiam compensar este gap no âmbito da pessoa, seria auxiliando-a a reconhecer-se e desenvolver-se em sua integralidade (bio-psico-sócio-espiritual), apesar de me questionar até onde seria viável, dado a natureza da organização. Mas principalmente, através da sociedade civil organizada, em que as empresas podem pressionar o poder público (sobretudo o Legislativo) para que aprimore o processo educacional, suprimindo a hegemonia ideológica presente nas escolas, proporcionando ensino que combine melhor a teoria e a prática e fazendo com que as grades curriculares integrem melhor as diversas ciências.