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A Logística das Formigas: Coisa de Gente Grande


Muitas vezes as pessoas, que trabalham com Transporte de Cargas, não acreditam em roteirizadores ou ferramentas de otimização, bem no fundo não acreditam.

Todos conhecem e por ser politicamente correto dizem: “claro, sei..... muito bom, mas para garantir é melhor ter um cara bom para conferir e acertar as diferenças pra realidade”.

Mais que conhecimento da ferramenta ou princípio, para o pessoal mais experiente, falta crença.
Quando a ferramenta não funciona, ela não foi escolhida corretamente ou as premissas aplicadas (ou restrições) não foram modeladas adequadamente. Acredite, funciona (aprendi da pior forma: otimizaram minha rota!!!!).

Se você tem alguns caminhões em rotas e motoristas fixos, o roteirizador ou algoritmos não melhoram sua vida; mas imagine centenas de caminhões em rotas variáveis em entregas e coletas (eu disse “e”, e não “ou”), o melhor “cara experiente” não resolve.

Imagine agora um formigueiro, não tem um “cara” lá.

As formigas saem do formigueiro e vão coletar alimentos sem qualquer planejamento ou informação, quando encontram têm de voltar pra casa utilizando a menor rota possível para evitar inimigos e poupar energia; mais complexo ainda quando lembramos que elas não têm idéia onde existe o suprimento a ser coletado. Milhares de formigas tendo que transportar uma carga muita pesada (uma formiga pode levar o dobro do seu próprio peso) e saem às cegas totalmente.
O resultado disso é uma operação tão perfeita que foi estudada por grandes pesquisadores e seu princípio utilizado na logística de gente grande.

Vamos lá, em forma de highlights simples:
  1. As Formigas saem do formigueiro e andam randomicamente procurando comida, enquanto caminham liberam um rastro de uma substância química (hormônio chamado feromônio) marcando um rastro (uma rota)
  2. Quando encontram, iniciam a volta para o formigueiro reforçando o rastro, liberando mais feromônio.
  3. As rotas não utilizadas desaparecem com a evaporação do hormônio.
  4. A rota principal começa a ser determinada, as formigas que passam por ali, sentem o cheiro do e passam a utilizar a mesma rota, reforçando-a com a liberação de mais hormônio.
  5. As rotas vão sendo melhoradas quando sub-rotas vão se incorporando por grupos menores de formigas que estavam na área da rota principal.
  6. O fluxo mais denso de formiga se forma no rastro com maior depósito de hormônio; e assim a rota formigueiro\alimento vai ficando mais curta, até que se torne a rota mais curta.
  7.  Em alguns minutos todas as formigas usam a mesma rota em uma fila única.

Como os pesquisadores conseguiram modelar esse processo?

Algoritmos que aprendem, na verdade tecnicamente e de forma simples:
  • Ø  A partir uma solução local o modelo cria uma família de algoritmos que ao incorporar rotas próximas, introduz pequenas melhoras, gerando outras melhores soluções locais e vai expandindo até que se tenha a melhor solução global do grafo (Grafos são representações gráficas para a rede (pontos/vértices), para conhecer mais veja na literatura teoria dos Grafos).
  • Ø  Algoritmos prontos e testados são sistematizados e computadorizados; assim a solução pode ser rodada em ambientes mais complexos e grafos muito grandes.
  • Ø  A solução final, conceitualmente não é a solução ótima, porque a ferramenta não é otimizante, mas busca a melhor solução viável (nem sempre a solução conceitualmente ótima é factível) para problema proposto considerando-se as restrições e os processos dinâmicos envolvidos.
  • Ø  O método, no entanto, é muito eficiente e bastante mais simples do que ferramentas complexas como algoritmos genéticos; por outro bastante aderente às situações reais por aceitar modelagem de restrições dinâmicas. 


Esse texto não tem como objetivo trazer o aprofundamento necessário para esgotar o conceito, ou preparar o leitor para sua aplicação; mas mostrar que otimizar é possível e é preciso!

Se as formigas podem, a gente consegue!!!

Um abraço e um obrigado ao improvável Leitor

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