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Redes de Transportes


Redes - parte 2

Depois dos conceitos unitários de Rede de Transportes (cross-dockingç milk-run, merge-dock; e CD), nessa parte do artigo vamos conhecer o que a literatura traz sobre a construção de Redes, e como podemos usar na vida real.

Boa Leitura!


As Redes de Transportes 

Novas técnicas desenvolvidas para otimizar o transporte vêm sendo criadas e implementadas sem que a literatura especializada consiga acompanhar com mesma dinâmica; as operações logísticas utilizam pouco a forma clássica de desenvolver a conceituação teórica realizada por meio de pesquisas e só então buscar o mundo real, o processo mais comumente é inverso, ou seja, os processos são criados na prática e então pesquisados, discutidos e formalizados pela literatura.
No passado, entre a origem e destino, utilizava-se somente transporte de lotação (FTL) ou transporte fracionado (LTL); atualmente técnicas como: cross-docking; Milk-run; e merge-docking são combinadas para formar redes de transporte em embarques diretos ou através da introdução de centros de distribuição ou locais de transit-point. Conceitos elementares não são mais suficientes para buscar otimizações e reduções de custos, bem como modelos antigos não atendem mais os níveis de serviço esperados. Os efeitos da globalização e o acirramento cada vez maior por pontos no market share fazem da logística um importante diferencial para a conquista do cliente, o cliente não espera pelo produto, em tempos de baixa fidelização compra o que está à sua mão no momento, o que os profissionais de marketing chamam de “hora da verdade”.
A questão é ter o produto de venda no momento em que o cliente quer comprar ao menor custo possível. Aproximar o estoque do mercado consumidor pode ser a solução, mas as variáveis: transporte; armazenagem; e custos de inventário, devem ser avaliados e equilibrados de modo a não encarecer o produto. Esta é a questão a ser resolvida por uma rede de transportes.

1- Rede de Transporte Tipo Embarque direto:
A rede de embarque direta é caracterizada por embarques feitos diretamente do fabricante para os clientes, ou de forma genérica da origem (ns) ao (s) destino (s). Com a rede de embarque direta a rota de cada embarque é específica, definindo-se apenas a quantidade a ser expedida e o tipo de transporte a ser utilizado. Esta decisão envolve análise entre transporte e custo de inventário. As maiores vantagens da rede de embarque direto são: a eliminação de armazenagens intermediárias, o que reduz o custo de inventário; fluxos de informação simples o que simplifica a operação e a coordenação da mesma; o tempo de transporte é menor se comparado a outras formas de rede de transporte, já que a carga não sofre parada para armazenagem, manuseio ou transbordo. Este tipo de rede é utilizado quando o embarcador é grande o suficiente para otimizar um embarque até normalmente FTL; para embarcadores pequenos o custo de um embarque direto pode se tornar muito alto, já que será freqüente a utilização de LTL desde a origem até o destino.
A figura 1, extraída de Chopra 2004, ilustra a Rede Tipo “Embarque Direto”

Origem (Fornecedores)                                              Destino (Clientes)


Figura 1: Embarque Direto
Fonte: Chopra 2004


2- Rede de Transporte Tipo Embarque Direto com Milk-run:
Este tipo de rede caracteriza-se pela aplicação do conceito do elemento ou rota Milk-run, antes ou depois da aplicação da Rede de Transportes tipo Embarque Direto, pode-se então se dar na coleta ou entrega aos clientes; esse tipo de conceito integrado ao Embarque direto é mais comum e mais factível na coleta.
O transporte, como na rede de embarque direto, vai da origem (ns) diretamente ao (s) destino (s), sem a inclusão de armazenagem ou cross-docking, realizando, entretanto, a operação adicional de Milk-run nas entregas ou coletas. Importante ressaltar que este tipo de rede pode ser aplicado:
1.    Na coleta de múltiplos fornecedores de peças, matéria prima, ou produtos intermediários, e com a carga completa ruma diretamente à fábrica de destino;
2.    Na entrega para múltiplos clientes de produtos a partir de um único embarcador, neste caso o caminhão sai completo da origem e realiza as entregas através da técnica de Milk-run.
Este tipo de rede é uma adaptação ou evolução do tipo embarque direto, com as mesmas vantagens e as vantagens adicionais da operação de Milk-run, consolidando essas operações conjugadas uma redução importante no custo total de transporte; e muito utilizada pela indústria automobilística.
As duas figuras que forma o conjunto 2, extraídas de Chopra 2004, ilustra a Rede Tipo “Embarque Direto com Milk-run”. Importante notar que as figuras mostram Milk - runs de Múltiplos fornecedores ou Múltiplos Clientes. 

Origem (Fornecedores)    Destino (Clientes)

Origem (Fornecedores)    Destino (Clientes)

Figura 2: Embarque Direto com Milk-Run
Fonte: Chopra 2004

3- Rede de Transporte Tipo Embarques via CD utilizando Milk-run:
Esta rede caracteriza-se pela realização de Milk-run na entrega, antecedido ou precedido pelas operações e armazenagem em um Centro de Distribuição. O conceito aplica-se e é recomendado com a utilização de um Centro de Distribuição se o tamanho dos lotes for pequeno; desta forma a operação de Milk-run vai diminuir o custo de transporte de outbound (entrega e distribuição) pela consolidação de carga que esta rede proporciona.
A figura 3, extraída de Chopra 2004, ilustra a Rede Tipo “Embarque Via Centro de Distribuição com Milk-run”

Origem (Fornecedores)    Destino (Clientes)
Figura 3: Embarque Via CD com Milk-Run
Fonte: Chopra 2004

4- Rede de Transporte Tipo Embarques via CD utilizando cross-docking:
Esta rede caracteriza-se pela realização de cross-docking na entrega, antecedido pelas operações de um Centro de Distribuição. Esta rede é bastante utilizada por grandes transportadores e operadores logísticos, pois permite a consolidação da carga de mais do que um embarcador no centro de distribuição e a distribuição para consumidores menores utilizando-se de cross-docking; grandes armazéns perderiam produtividade e teriam maiores custos de transportes se embarcassem direto aos consumidores, como é o caso da primeira rede apresentada (Embarque Direto).
A rede via CD utilizando cross-docking funciona da seguinte forma: o centro de distribuição recebe carga de múltiplos clientes (pode funcionar com apenas um cliente se este tiver um grande volume), armazena e trabalha a carga por meio de “sistemas de gerenciamento de armazenagem” (WMS), e prepara a carga para expedição; para cargas que completam um veículo (FTL) o embarque é direto, para cargas menores as cargas são consolidadas, normalmente por regiões, e lotadas em caminhão completo (segundo o conceito de cross-docking apresentado), que segue para um transit point e a carga então “cruza a doca” diretamente para os veículos menores de entrega.
A figura 4 ilustra a Rede Tipo “Embarque Via Centro de Distribuição com Cross-docking”

Cliente Final

Cliente Final
XDOCK
CD
Coleta
Distribuição
Transferência

Fornecedores           CD                  XDock                          Clientes




Figura 4: Embarque Via CD com Cross-docking
Fonte: o autor

5 Rede de Transporte Tipo Embarques via CD utilizando merge-docking e cross-docking:
Esta rede caracteriza-se pela realização de cross-docking na entrega, antecedido pelas operações de um Centro de Distribuição que envia a carga para outro Centro de distribuição tipo merge-docking. Esta rede é utilizada por grandes embarcadores e operadores logísticos, pois não existe a consolidação da carga com outros embarcadores, sendo este modelo normalmente exclusivo e dedicado a um único embarcador.
A rede via CD utilizando merge-docking e cross-docking funciona da seguinte forma: o centro de distribuição recebe carga de múltiplos sites de um mesmo cliente, armazena e trabalha a carga por meio de “sistemas de gerenciamento de armazenagem” (WMS), e prepara a carga para expedição; o merge-docking é abastecido dos produtos de alto giro de forma regular e constante seguindo critérios de reposição de estoque determinados pelo embarcado e operador, as cargas de baixo giro são “encaixadas” nos caminhões de transferência de produtos de alto giro, no momento da demanda, e preparadas para a operação de cross-docking.
Essa rede é de fato bastante interessante, pois viabiliza a operação de duas redes de forma simultânea: embarque direto via CD e Cross-docking via CD.
A figura que ilustraria essa rede é a mesma apresentada pela figura 4, pois a variação não é dos elementos ou de suas posições, mas de operação.

Análise Comparativa dos Tipos de Rede de Transportes. 

Para a análise comparativa proposta a seguir, os tipos de redes são representados pelos números designados no texto (de 1 a 5) de forma seqüencial e respectivamente.
Essa análise comparativa busca a melhor aderência entre a rede e as principais variáveis da cadeia logística. A análise é retratada através da tabela 1.

Tabela 1: Análise de aderência dos tipos de rede às principais variáveis da cadeia logística.



Conclusões e Recomendações. 

Qual o tipo de rede apresentada é a melhor?
Qual traz o menor custo?
Qual oferece o melhor nível de serviço?

Infelizmente a resposta para todas as perguntas é um tenebroso “depende”, mas desta feita não por razões evasivas, mas sim pela maravilhosa oportunidade de trabalhar as variáveis e buscar o melhor resultado.
Como tudo na vida escolher a melhor opção ou o melhor caminho depende de se escolher antes e bem aonde se quer chegar. Antes de escolher a Rede determine qual é o objetivo.
Redes que privilegiam custo de transporte via de regra encarecem os custos de estoque; otimização dos custos logísticos de forma integrada, ou seja, Redes que minimizam estoque, transporte, armazenagem e manuseio serão mais lentas.
Há um paradigma que as redes não podem ser lentas e que sempre devemos colocar a carga no cliente o mais rápido possível. Não é verdade. Não se pode confundir velocidade com bom nível de serviço.
A velocidade tem ser imposta por razões de mercado, e normalmente concorrência; nível de serviço é atender expectativa, e em termos de velocidade significa atender o cliente no tempo que ele espera. Então imprimir muita velocidade pode não fazer efeito e ao mesmo tempo encarecer a logística de modo a inviabilizar ou minimizar lucro.
De forma oposta, produtos de valor agregado alto, como eletrônicos, por exemplo, não aceita altos estoques, se tornam obsoletos muito rapidamente e as “promoções” se sucedem então rapidez é mais importante que custo.
Importante quebrar o paradigma que nem tudo precisa ser barato e rápido ao mesmo tempo. Custo adequado e nível de serviço adequado.
Se uma rede tem de ser rápida, monta-se a melhor e mais eficiente rede rápida, ela será a de menor custo possível, mas o fator de decisão é baixo nível de estoque e menor lead time total.
Se uma rede deve ser a de menor custo, porque o produto é de baixo valor agregado, tem de se montar a rede menos custosa e que tenha a melhor velocidade e eficiência dentre as menos custosas.
As redes não são caras ou baratas, mas têm boas ou ruins relações de custo-benefício. 
A Figura 5 retrata de forma gráfica esses conceitos.


É uma comparação subjetiva entre os tipos de redes considerando as variáveis: custo de transporte (pelo tamanho da elipse), a acessibilidade ao mercado no eixo y, e o custo de estoque na cadeia no eixo x. O objetivo desta análise é comparar custos (estoque e transporte) versus Nível de serviço (acessibilidade, e rapidez que se alcança o mercado).

Figura 5: Análise das Redes, utilizando as variáveis: rapidez (tamanho da elipse), custo de estoque (x) e custo de Transporte (y)

A lista de Redes apresentadas aqui não é exaustiva, o próprio Chopra apresenta um tipo de rede que chama de “Tailor”, como diz o título é construída sob medida.
Uma vez que se conhece bem o mercado, o produto, os elementos e possibilidades, a melhor rede, sem dúvida, será a aquela construída para exclusivamente para atender os objetivos a que se propõe.
Conceitos, Conhecimento do Mercado e trabalho, muito trabalho essa é a fórmula da melhor Rede.

Referências Bibliográficas

  1. Ballou R. H. Business Logistics Management (4a. Edição). Prentice Hall. EUA, 1999.
  2. Bowersox D. J., Closs D. J. Logistical Management: The Integrated Supply Process. McGraw-Hill. EUA, 1996.
  3. Chopra, S. Meidl, P. Supply Chain Management, Índia, 2004.
  4. Lambert, D. M., Stock J. R. Ellram, L.M. Fundamentals of Logistic Management. Irwin McGraw-Hill. Boston, EUA, 1998.
  5. Lamming, R., et al. An initial classification of supply networks. International Journal of Operations & Production Management. V. 20, n.6, p. 675-691, EUA, 2000.
  6. Levi D. S., Kaminsky P. Designing and Managing the Supply Chain. Editora S-Levi/ Irwin McGraw-Hill. EUA, 2000.
  7. Novaes, A.G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição. Editora Campus, 2004.
  8. Tacla, D. Anotações de Aula. LALT Universidade Campinas. Brasil, 2005.
  9. Tacla, D. Estudo de transporte colaborativo de cargas de grande volume, com aplicação em caso de soja e fertilizantes Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Brasil, 2003.


Colaboraram: Prof. Dr. Orlando Fontes Lima Jr. e Simone Shulz

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